“Ao no Honoo” (青の炎), internacionalmente conhecido como The Blue Light, foi baseado no mangá de Kishi Yusuke, dirigido e co-escrito por Yukio Ninagawa. Estreou em 15 de março de 2003 no Japão e foi apresentado no Cannes Film Festival em maio do mesmo ano, na França.
Kushimori Shuuichi (Ninomiya Kazunari) mora com Yuuko (Akiyoshi Kumiko), sua mãe, e Haruka (Suzuki Anne), sua irmã mais nova. A sua vida é como a de um estudante colegial qualquer: escola, casa, escola, casa. A única diferença é que ele prefere fazer esse percurso com sua bicicleta. Opa, não é uma bicicleta, mas sim umaroad racer, como ele mesmo faz questão de afirmar. A questão é: a família Kushimoritem um problema chamado Sone (Yamamoto Kansai), padrasto de Shuuichi e verdadeiro pai de sua irmã, que havia se ausentado da casa e retornou de uma hora pra outra. Até aqui é possível enxergar uma narrativa que envolve desavenças familiares nada graves. Entretanto, a perturbação psicológica do protagonista começa a aflorar a partir do momento que ele vê sua mãe, passiva às atitudes de Sone, permitir que ele volte a dominar o ambiente em que os três vivem. Quando, durante uma pesquisa na internet, ele descobre como acabar com isso de uma vez por todas.
Trailer:
☆ Encontrei o making of do filme no YouTube, que está dividido em duas partes: um e dois, ambos com áudio em japonês e sem legendas.
- Por que assistir?
☆ Primeiramente, a atuação de Ninomiya Kazunari está digna e totalmente entregue ao personagem, tanto nas cenas de fúria como nas de suspense. Shuuichi é um garoto normal na frente dos outros, mas quando está sozinho mostra-se extremamente descontrolado, agressivo e com uma grande necessidade de expressão. Não é à toa que ele utiliza um gravador pra expor todos os seus pensamentos e sensações, por mais psicóticas que sejam. Nessas cenas, Nino consegue traduzir o que está sentindo, bem como transpor as emoções através de seu olhar enigmático e pela voz.
“Cães não têm imaginação. O mesmo serve para gatos e ovelhas. Por isso que eles não se agrupam, ficam depressivos ou se enforcam. Não estou perdendo a minha imaginação. Tenho muitas coisas a fazer antes de me enforcar.”
☆ Uma das cenas que me deixou mais intrigada foi quando Shuuichi visita um advogado para saber a respeito do divórcio de sua mãe. Durante a conversa, o cara pergunta se Sone batia nele. Em seguida, Shuuichi diz que não se lembra e que tem memórias vagas sobre o passado. O advogado não entende, mas ele continua a afirmar que realmente não se recorda de nada a respeito de sua infância. Achei tão estranho que até cheguei a cogitar se chegou a sofrer abusos sexuais, porém, não dá pra ter certeza. A dúvida permanece até o final do filme, então não espere uma resposta conclusiva.
☆ O roteiro é envolvente e repleto de suspense. Depois que Shuuichi descobre os poderes da “chama azul” do título, a narrativa começa a seguir por um caminho sem volta. Ele cria um plano – infalível em sua mente perturbada -, que depende unicamente de itens encontrados na internet e lojas de conveniência, além de sua road racer e astúcia para concluí-lo sem que ninguém perceba. Quando já está com tudo reunido a dúvida surge: será que devo mesmo fazer isso? Mas não tinha mais jeito. Fato consumado. Após isso, o roteiro consegue ser ainda mais cruel e joga em sua cara que tudo seria resolvido mesmo se ele não tivesse tomado nenhuma atitude drástica. Apesar disso, a frieza de Shuuichi prevalece até o fim, comprovando que tem sim tendência à psicopatia.
☆ Sempre digo que a trilha sonora de um filme faz toda a diferença, seja positiva ou não. Aqui, diria que acertaram em cheio. As insert songs são maravilhosas e traduzem bem as cenas, como a “Silent Emotion”. Pra quem se interessar, upei o áudio nomediafire. A música tema é “The Post War Dream”, do Pink Floyd:
☆ O filme pode ser baixado em torrent, com legendas em português, nofansubber (precisa de cadastro) e também pode ser assistido no YouTube, com legendas em inglês e dividido em 12 partes.
☆ A relação de Shuuichi e Fukuhara Noriko (Matsuura Aya) também é surpreendente. De início, ambos eram apenas colegas de classe, sem nada em comum ou qualquer sentimento um pelo outro. Com o tempo, um se torna cúmplice do outro, trocando confidências e deixando no ar um amor adolescente pronto para nascer, mas que ambos sabem que jamais se concretizará. As cenas em que estão juntos deixam aquela sensação de vazio e há silêncios que perturbam, como se houvesse a necessidade da presença do som de qualquer coisa para sentir, ao menos, um alívio passageiro. Inclusive, se você for observador, conseguirá absorver cada sutileza do filme, inclusive o som das ondas e dos pássaros, que compõem essa atmosfera melancólica em torno dos personagens.
☆ Uma curiosidade que a amiga Kiyomi compartilhou comigo: foi seu trabalho em “Ao no Honoo” que Nino apresentou ao ator/diretor Clint Eastwood para o teste do personagem Shimizu em “Cartas de Iwo Jima”, mas o desempenho foi tão grande que acabou pegando o papel de Saigo.
- Por que não assistir?
☆ Analisando apenas o filme, nem rola dar grandes motivos para deixar de assisti-lo. Como ainda não li o mangá, fica difícil sentir falta de algo existente na história original que influencia na adaptação cinematográfica. Aliás, preciso encomendar esse oneshotpra ontem. É título obrigatório, já que sou fã do roteiro. Talvez um ponto que deixe algumas pessoas incomodadas é o fato de não ser possível saber o que acontece após o grande impacto da cena final. Claro que existe o desastre e que todos ao redor ficarão chocados quando descobrirem, mas a própria família de Shuuichi não aparece, apenas a Noriko que, como disse anteriormente, tornou-se a única pessoa capaz de compreender a complexidade da alma do quase primeiro namoradinho. Assumo queshippei muito o casal, mas, mas… apenas ficando depressiva agora. Um minuto de silêncio (…)
☆ Outro ponto negativo que vale destacar é que essa história poderia ter sido contada em um dorama. O passado de Shuuichi não ficou muito claro no filme, muito menos o relacionamento dele com a família e padrasto. Quando o longa acaba, percebi que há diálogos que deixam fragmentos de acontecimentos que, na minha opinião, influenciaram profundamente no comportamento do protagonista, inclusive, culminaram na única alternativa encontrada por ele, extremista, claro, mas que poderia ser melhor compreendida se a infância dos personagens fosse resgatada. Mesmo que fosse em flashback, queria entender o que realmente o levou a cometer tal ato (sem spoilers).
- Você também pode gostar de…
☆ “Saigo no Yakusoku (最後の約束), filme de 2010 com todos os integrantes do Arashi (Ohno Satoshi, Sakurai Sho, Aiba Masaki, Ninomiya Kazunari e Matsumoto Jun) no elenco, além de Fujiki Naohito, Kuroki Meisa e Ootsuka Nene como coadjuvantes. A história gira em torno dos cinco principais que, aparentemente, não se conhecem e estão no mesmo prédio, mas interagindo com outras pessoas. O prédio é isolado por um grupo desconhecido e quem estava lá dentro foi pego como refém. A partir disso, as cenas vão intercalando entre os protagonistas e, de uma forma bem óbvia, os acontecimentos vão se conectando e todos se encontram em determinado momento do filme. A relação dele com Ao no Honoo é que existe um fato trágico como pano de fundo, a diferença é que, aqui, há laços de amizade, vingança e uma promessa que os levou ao extremo. Pessoalmente, achei o plot mal adaptado e bem previsível, mas não é de todo ruim. O final poderia ter sido um pouco menos dramático e mais realista também. Recomendo pra quem gosta de Arashi e curte suspense.
- A dorama recomenda ou não?
☆ Ao no Honoo me deixou pensativa durante uma semana. Falei dele pra todo mundo que encontrava, até pra quem não curtia filmes japoneses. Claro que a aceitação dos outros foi totalmente diferente da minha e isso é normal. Afinal, cada um absorve o que assiste de forma diferente, às vezes nem absorve nada e apenas o soma à lista infinita de filmes assistidos. Para mim, teve um peso enorme. Não porque relacionei a algum fato ocorrido em minha própria vida, mas sim porque me imaginei na pele dele, chegando ao limite de não encontrar nenhuma outra solução a não ser usar as próprias mãos, perversamente falando, pra resolver o problema. Quando lembro da história, sinto que Shuuichi meio que queria um motivo pra fazer o que fez, como se essa fosse a única forma de arrancar todos os espinhos de seu coração. RECOMENDO sem arrependimentos. Tenho certeza de que ficará, nem que seja por um minuto, pensando no quanto o ser humano é frágil e complexo.
fonte:http://umlitrodedorama.wordpress.com/2013/08/01/ao-no-honoo/